Campanhas

 

Nesta seção deveremos divulgar campanhas voltadas à conservação de mamíferos marinhos. Ela faz parte de uma visão ideológica do LABCMA e defende ao máximo a liberdade e o direito à vida que esses incríveis mamíferos conquistaram em milhões de anos de evolução. Também estamos lançando campanhas para a proteção de baleias-francas e toninhas no sudeste do Brasil. Visite as abas a seguir para conhecer mais detalhes.

 

Diga não à caça à baleia

Caça à Baleia

Ilustração: Kristen Carlson em Estes et al. (2006)

Esta seção é dedicada a um assunto ainda polêmico no século XXI: a caça à baleia. Uma atividade que envolveu um receio inicial sobre males que esses leviatãs poderiam causar aos humanos, passou para uma questão tradicional há muito tempo, transcendendo a mesma para uma visão economicamente lucrativa, e hoje tem um cunho político-econômico que aparentemente não tem fim. Nessas discussões, os maiores interessados nunca são consultados: as baleias! As seções a seguir trazem o histórico da caça, a criação da comissão baleeira internacional, suas ações, e as perspectivas futuras.

Histórico

Desde os primórdios o homem realiza a atividade de caça à baleia, que no Ártico data de 500 D.C. . Existem registros desta atividade no livro mais antigo do Japão, o "Kojiki", do ano de 712. Povos como os bascos, os esquimós da Groenlândia e das Aleutas, os índios das costas dos Estados Unidos, dentre outros, realizavam a prática da caça de maneiras bem arcaicas. Eram aventuras temidas devido ao porte pequeno das embarcações e ao respeito que havia na época em relação aos desconhecidos "monstros marinhos".

Ilustração: Kristen Carlson em Estes et al. (2006)

Com o passar do tempo, este respeito passou a se transformar em ganância. O interesse econômico prevaleceu, e a atividade da caça começou a se expandir através de várias bacias oceânicas do planeta. Na época, expedições que poderiam durar até quatro ou cinco anos eram planejadas com o objetivo de se conseguir o óleo das baleias, utilizado-o para confecção de velas para iluminação, aquecimento de casas e embarcações. A carne era utilizada como fonte de alimento. Alguns povos passaram a utilizar as barbatanas das grandes baleias para a confecção de chicotes, guarda-chuvas e espartilhos.

 

Caça à baleia nos primórdios. Ilustração: Avelino Guedes.

Com o tempo foi descoberto o âmbar cinzento: um derivado sólido do tratamento gastro-intestinal dos cachalotes aos bicos córneos dos cefalópodes. Do âmbar, sintetizam-se cosméticos, principalmente perfumes. Em 1864, o norueguês Svend Foyn cria o canhão-arpão para facilitar a caça. É um arpão com um explosivo fatal à sua extremidade. Depois chega o navio-fábrica de propulsão mecânica. Anos depois é inventada a técnica de injeção de ar nos corpos das baleias caçadas para que estas flutuassem, facilitando a caça. Surge também o arpão-frio, um arpão que, ao adentrar o corpo do cetáceo, abre-se como um guarda-chuva, causando uma hemorragia interna. Com estes inventos, a caça tomou tais proporções que os próprios baleeiros começaram a ter problemas para encontrar suas presas. Para onde elas foram ?!?

O maior celeiro de baleias do mundo foi explorado por décadas. A Antártica hospedou indústrias baleeiras por muitos anos. Os estoques de baleia foram dizimados como uma sucessão de ondas. Primeiro, o alvo foi a baleia-azul. A maior espécie rende mais lucros. Quando elas tornaram-se raras, passaram a caçar a baleia-fin. Na sequência, a baleia-sei e, por fim, as baleias-minke. Essas são as bolas da vez no século XXI.

Restos de fábrica de caça à baleia localizada na Ilha Deception, Antártica. Foto: Marcos Santos.

A indústria baleeira passou a utilizar os cetáceos caçados para produzir alimento para cachorros e gatos, alimentar o gado, confecção de cosméticos, conservantes, tintas, vernizes, margarinas, e até redes de raquetes de tênis com as cerdas bucais. Todos os produtos derivados dos cetáceos passaram a ser sintetizados industrialmente. A caça passou a ser totalmente dispensável à humanidade, com exceção de alguns povos ("causa aborígene"), como Esquimós, Polinésios de Tonga, Indonésios de Timor, dentre outros.


A caça à baleia também foi realizada no Brasil. No período colonial a caça era realizada de maneira arcaica entre Santa Catarina e a Bahia. Entre 1964 e 1986, operou na Paraíba a COPESBRA, uma indústria brasileira subsidiada pela Nipon Reizo Kabashi Kaisha do Japão. Desde 1986 é terminantemente proibida a caça e comercialização de baleias em território nacional.

 

Comissão Baleeira Internacional

Em 1946, 19 nações formam a "International Whaling Commission (IWC)", ou Comissão Internacional de caça à Baleia ("CIB", em português). Esta comissão foi formada em função da preocupação da exploração indiscriminada de espécies migratórias que são patrimônio da humanidade, e não recursos econômicos de alguns países. A IWC passou a controlar a matança indiscriminada de algumas espécies, estipulando cotas e temporadas para alguns países e povos que das baleias dependeram. Anualmente a IWC promove reuniões envolvendo pesquisadores e políticos de todas as nações interessadas em proteger ou caçar as baleias. Alguns países sempre se opuseram à proteção das baleias: Islândia, Japão, Noruega e Coreia são os principais. 

Desde 1986, após vários anos de tentativas, e de quase total dizimação das grandes baleias, foi declarada uma moratória da caça até a renovação dos estoques destas. Foi dado um prazo de cinco anos para esta renovação, ao final dos quais seria expirada a moratória. Países como Japão (1988), União Soviética (ex) e Noruega (1987) cessaram um pouco mais tarde suas atividades de caça. Naqueles países e na Islândia, a caça à baleia é tradicional, vem de tempos remotos, e é uma atividade que passa de geração para geração. Os japoneses cultuam a caça à baleia desde os primórdios, sempre manufaturando suas caças integralmente, ou seja, aproveitando praticamente 100% do corpo do cetáceo. Japão e Islândia são países pequenos, encontrados em regiões expostas a vulcanismos constantes, não podendo utilizar suas terras de maneira íntegra para criação de gado ou similares para suprir proteína animal. São povos que, juntamente com os noruegueses, sempre extraíram recursos do mar. Em 1992, na reunião anual da IWC em Glasgow, na Escócia, foi negada a suspensão da moratória. Houve o desligamento voluntário da Islândia, e houve uma manifestação dos representantes da Noruega de que estes voltariam à caça em 1993, independente da decisão tomada na próxima reunião. O Japão provavelmente faria o mesmo. Em 1993, após uma semana conturbada de reuniões e de discussões no Japão, foi votada pela maioria dos integrantes da IWC a manutenção da moratória por mais oito anos. As reuniões continuam ocorrendo anualmente e são cada vez mais divulgadas na mídia. O visitante desta página obterá mais informações ao visitar também http://www.iwcoffice.org.


Dos anos 1990 em diante, a caça à baleia passou a englobar discussões muito delicadas no contexto mundial. Questões econômicas (crise mundial), sociais (crise alimentar), culturais (Japão, Noruega, Islândia e outros povos), políticas e ambientalistas foram consideradas quando da tomada de importantes decisões. A IWC estipulou cotas de caça anuais (exemplo, cerca de 150 a 400 baleias-minke para o Japão no Hemisfério Sul por temporada) em função das estimativas populacionais levantadas (cerca de 900 mil indivíduos).

Outras Ameaças

Com toda a atenção voltada aos grandes cetáceos, durante vários anos os pequenos cetáceos não só passaram a ser caçados, como também tiveram seus números reduzidos devido às capturas acidentais em redes de pesca, aos despejos de lixo químico e industrial nos oceanos, à caça indiscriminada de determinadas populações por alguns povos, aos acidentes constantes com navios petroleiros e colisões com lanchas, etc.

Os pequenos cetáceos habitantes de rios estão em perigo em todas as partes do mundo onde são encontrados. Esse habitat é altamente vulnerável à degradação e está sob forte pressão de populações humanas em expansão. Para se ter uma idéia, quase 10% da população humana vive ao longo do rio Yangtze, na China, habitat do "Baiji". ("Yangtze river dolphin"), espécie de golfinho considerada extinta em 2007 pelas nossas ações. Os despejos de lixo industrial naquele rio cresceram rapidamente à medida que a China "construiu seu futuro" (?!?). Na bacia do Amazonas, os problemas relacionam-se com a crescente derrubada da mata florestal, com o desenvolvimento de projetos irracionais e que geralmente têm um aval de partidos políticos gananciosos por trás, para a implantação de hidrelétricas, exploração pesqueira, poluição agrícola e industrial e mineração. A maior ameaça à sobrevivência dos cetáceos no mundo inteiro reside na ganância e irracionalidade com que os humanos tratam o planeta em que vivem.

A defesa e a proteção de baleias e golfinhos dependerão da compreensão sobre seus papéis na teia trófica, ciclo de energia e matéria nos ecossistemas e os potenciais impactos que as mudanças climáticas podem gerar na forma de uso de área de muitas das espécies.
E se o inverso fosse comum como na ilustração abaixo, você se sentiria confortável?

Não ao Cativeiro!

Não ao Cativeiro!

Você irá encontrar neste site três casos de cativeiros que mantiveram cetáceos realizando malabarismos em troca de alimento entre 1968 e 1993 no Brasil. Poucos empresários enriqueceram com facilidade após forçar golfinhos-nariz-de-garrafa e orcas a realizarem espetáculos de circo, e expor botos-cor-de-rosa da Amazônia em um Shopping Center. A maioria destes animais perdeu sua vida.

No Brasil, esta indústria parou suas atividades na década de 1990. Comportamento forçado é comportamento pervertido. Todos sabem que o confinamento é deletério à mente dos humanos e dos animais. Prefira visitar esses animais na natureza, em seus termos.

OCEANORIUM, SÃO VICENTE, SP

"Flipper" alguns dias antes de sua soltura na Natureza. Foto: A TRIBUNA de Santos.

O Estado de São Paulo abrigou três recintos com cetáceos. Um desses recintos localizava-se no município de São Vicente e era chamado de Oceanorium. Aquele recinto não só manteve golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus), mas também lidou com leões-marinhos (Zalophus californianus) trazidos da Califórnia. Eles mantiveram mamíferos marinhos entre 1968 e 1993. Pelo menos 10 golfinhos-nariz-de-garrafa morreram em um tanque pequeno que continha água com tratamento inadequado. Apenas para dar uma ideia aos leitores sobre como os animais eram tratados neste recinto, segue fatos comprovados. No dia 15 de janeiro de 1970, uma fêmea da espécie T. truncatus chegou da Califórnia e morreu quatro dias depois em função dos maus tratos durante o transporte. Naquela ocasião, o empresário possuía cinco golfinhos-nariz-de-garrafa e três leões-marinhos. Naquele mesmo ano, o dono do Oceanorium trouxe outro golfinho da Califórnia que recebeu o nome de "Juliet".

Esta fêmea morreu dois anos depois com pneumonia. No mesmo ano, outra fêmea chamada de "Brigitte" também morreu. Após a necropsia, mais de 2 kg de pregos, bolas de gude e pedras foram encontrados em seu estômago. Em 1990, aquele recinto tinha apenas dois golfinhos: "Carolina", uma fêmea que morreu naquele ano, e "Flipper", que parou de se apresentar em 1991 e foi solto em Santa Catarina em 1993. O Oceanorium fechou em seguida, e desde 1993 não presenciou mais mortes de cetáceos.

EXOTIQUARIUM, MORUMBI SHOPPING, SP

Bia e Tiquinha expostas em um Shopping Center. Foto: Augusto Heleno.

Um par fêmea-filhote de botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) foi capturado no Rio Formoso, no Estado de Goiás, em 1985. Eles foram trazidos para uma piscina de dimensões pequenas no Morumbi Shopping, localizado na cidade de São Paulo. A piscina tinha cerca de quatro metros de profundidade e parecia mais uma vitrine de uma das lojas do shopping. As pessoas que lidaram com aqueles botos desconheciam sobre a biologia da espécie, assim como nunca haviam lidado com golfinhos em cativeiro. Eles chamaram a fêmea adulta de "Bia" e o filhote de "Tiquinha". No dia 29 de maio de 1987, a "Tiquinha" morreu com pneumonia crônica, provavelmente causada por tratamento inadequado do recinto. Uma Organização Não Governamental chamada "União Internacional de Proteção aos Animais" (UIPA) ordenou o governo brasileiro que liberasse a outra fêmea. Em julho de 1988, "Bia" foi solta no Rio Formoso e desapareceu. O recinto para cetáceos do shopping foi então fechado.

 

ORCA SHOW, PLAYCENTER, SP

Samoa em exibição no Playcenter, na década de 1980. Foto: Marcos César de O. Santos.

 


Golfinho-nariz-de-garrafa se exibindo em tanque no Playcenter, SP. Fotos: Marcos César de O. Santos.

 

Em 1985 duas pequenas orcas foram capturadas em águas da Islândia. Elas foram transportadas por um navio das águas límpidas da Islândia para um tanque de águas escuras na cidade de São Paulo. Elas viveram no extinto Playcenter, um parque de diversões da cidade. A piscina em que viviam tinha dimensões pequenas contendo água com tratamento inadequado. Elas receberam os nomes de "Nandú" (macho) e de "Samoa" (a fêmea). Provavelmente, por causa do estresse da captura e do transporte não apropriado, "Nandú" comeu bolas de basquete na viagem e todo o plástico que revestia a piscina internamente. Ele sempre teve problemas estomacais e intestinais. No dia 2 de março de 1988, "Nandú" morreu com um tumor nas glândulas adrenais. Ele tinha quatro metros de comprimento e não mais do que quatro anos de idade. Sua estrtutura esquelética está exposta no Museu da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP em São Paulo, seu novo lar. "Samoa" permaneceu no tanque até o mês de março de 1989, quando ela foi vendida ao Sea World de Orlando, onde faleceu três anos depois com menos de seis anos de idade. Alguns golfinhos-nariz-de-garrafa e leões marinhos também viveram neste recinto. Desde 1990 não houve mais apresentações de mamíferos aquáticos no Playcenter.

 


Samoa sendo transportada para o Aeroporto Internacional de Guarulhos. Fotos: Folha de S. Paulo - Arquivos.

 

Quando os mares têm paredes

Em 2000, o Ministério do Meio Ambiente proibiu a exploração de 49 mamíferos aquáticos da fauna nativa ou exótica brasileira em espetáculos públicos. Por um lado foi definitivamente um passo lúcido do governo brasileiro. A legislação vigente até então estava dando abertura a empresários que, por alguns momentos, puderam enriquecer com o sofrimento de mamíferos aquáticos. 

Orca em cativeiro nos Estados Unidos, onde a indústria rende milhões de dólares. Foto: Marcos Santos.

Estes são exemplos caseiros que poderiam se repetir com mais facilidade no Brasil, caso o governo federal não tomasse a atitude acima mencionada. Porém, a lei deixa claro que, caso os mamíferos aquáticos sejam trazidos do exterior, aqueles mesmos empresários poderão exibi-los ao público, porém sem as performances denominadas mundialmente como espetáculos. “Nandú”, “Samoa”, “Bia”, e “Tikinha” são alguns dos milhares de exemplos que existem espalhados pelo mundo. Animais graciosos que foram forçados a trocar a vida livre pela prisão, e pagaram com suas vidas o bem-estar de alguns poucos empresários. Alguns países, como a Inglaterra por exemplo, proibiram definitivamente a manutenção desses animais em cativeiro. Organizações Não-Governamentais Internacionais continuam sua batalha para que a legislação em seus países seja mais rigorosa com os mega-parques, que por sua vez enriquecem poucas pessoas às custas do trabalho escravo de golfinhos, orcas e lobos-marinhos. O Brasil tomou uma importante decisão, e espera-se que a mesma seja mantida e aprimorada.

Enquanto isso, os registros de interações fatais entre orcas e treinadores aumentaram numericamente em tanques pelo mundo. Seria uma resposta à sensação de angústia por viver em um local tão pequeno? Seria uma resposta a possíveis maus tratos? Estariam essas orcas estressadas de tantos compromissos ininterruptos? Não será de se espantar que esses casos continuem em crescentes registros nas próximas décadas.

Toninhas a caminho da extinção?

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 Toninha

 

Quem é?

A toninha (Pontoporia blainvillei) é um pequeno cetáceo odontoceto da família Pontoporiidae. Ao longo de sua distribuição no Brasil outras denominações tais como manico, boto-garrafa e boto-cachimbo também podem ser utilizadas. Já em países de língua espanhola e inglesa o nome comum mais adotado é franciscana.

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Toninha forrageando o fundo (à esquerda), e individuos capturados acidentalmente por barcos de pesca (à direita). Fonte: Acervo LABCMA.

Ocorrendo desde Itaúnas (18o25’S), Estado do Espírito Santo, Brasil, até Golfo San Matias (~42oS), Província de Chubut, Argentina, o habitat preferencial da toninha inclui regiões estuarinas e costeiras de até 50m de profundidade. No entanto, a maior parte das ocorrências são registradas em águas mais rasas de até 30 metros.

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Mapa de distribuição da Toninha (Pontoporia blainvillei). Fonte: Júlia Oshima

A alimentação da toninha compreende uma ampla variedade de presas com cerca de 80 itens já registrados como parte de sua dieta no Brasil, Uruguai e Argentina. Composta principalmente por peixes ósseos e lulas de regiões estuarinas e costeiras, a alimentação da espécie se dá à base de presas de pequeno porte, geralmente em torno de 10 cm.

Apesar da pouca informação sobre a mortalidade natural da toninha, é conhecida sua predação por parte de algumas espécies de tubarões como a tintureira (Galeocerdo cuvieri), cação-bruxa (Notorynchus cepedianus), tubarão-martelo (Sphyrna spp.) e de orcas (Orcinus orca).

 

Como identificar

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Toninha ou Franciscana (Pontoporia blainvillei). Ilustração: Pieter Folkens

A toninha é pequena e muito difícil de se avistar. Possui coloração amarronzada e marrom-claro a cinza-claro no flanco e ventre, o que a torna muito camuflada na água turva onde ocorre. Possui rostro longo e nadadeira em forma de trapézio. Adultos podem chegar a 1,8 metros e filhotes nascem com até 80 cm. As toninhas são ariscas e geralmente com aproximação ou percepção do barco tendem a fazer mergulhos mais longos e se afastar.

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 À esquerda, Toninha pronta para ser necropsiada (observar nadadeira peitoral em forma de trapézio). À direita, individuo avistado em ambiente natural (observar rostro longo do animal). Fonte: Acervo LABCMA.

 

Ameaças

A limitação da espécie quanto ao habitat preferencial e às características do seu ciclo de vida, aliadas à pressão exercida pelas operações de pesca em regiões costeiras, constituem as principais ameaças para a extinção da espécie. Entretanto, processos de degradação ambiental em áreas costeiras e estuarinas devem ser levados em conta como causadores de impacto sobre suas populações. Atualmente, a mortalidade devido à captura acidental em redes de pesca, sobretudo redes de emalhe, constitui a principal ameaça à conservação da toninha. Porém, não há evidências de captura direcionada à espécie.

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Ambas as fotos mostram individuos capturados acidentalmente por redes de pesca. Todos os indivíduos foram necropsiados.  Fonte: Acervo LABCMA.

O plano de ação para a conservação das toninhas foi criado por órgãos ambientais do governo federal, como o ICMBio, em conjunto com pesquisadores e membros da comunidade civil, para que medidas possam ser tomadas com relação a conservação da espécie. O plano poderá contribuir de maneira efetiva para a proteção não apenas da toninha, mas também para todas as espécies que compartilham suas áreas de distribuição com o cetáceo.

 

Nossa meta

O objetivo deste projeto é contribuir com estudos de natureza científica e ações no âmbito das comunidades pesqueiras, que visem, bem como viabilizem a conservação da espécie. Investigações acerca da história natural da toninha, tais como reprodução, crescimento, determinação de idade, biometria, hábitos alimentares, parasitismo, contaminação por poluentes, patologias e causas da mortalidade natural são importantes para o entendimento do seu modo de vida, incluindo interações intra e interespecíficas. Parâmetros vitais (taxas de sobrevivência e reprodutivas) e demográficos são cruciais para o entendimento da dinâmica populacional da espécie, bem como da sua capacidade intrínseca de reagir aos impactos antrópicos. De modo geral, parte dessas investigações só pode ser conduzida mediante o recolhimento de carcaças de animais mortos acidentalmente em pescarias ou encalhados ao longo do litoral, de onde amostras podem ser extraídas para os procedimentos de análise.

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Toninha pronta para necropsia, que foi realizada na base do IOUSP em Cananéia. Fonte: Acervo LABCMA.

 

Conheça e ajude a proteger a baleia-franca

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Baleia-franca-austral 

 

Quem são

Conhecida como "right whale", a "baleia-certa" em língua inglesa, a baleia-franca era considerada a baleia certa a se caçar, pois se desloca vagarosamente próximo à costa, além de flutuar depois de morta devido à espessa camada de gordura. Assim, trazia grande rendimento econômico aos baleeiros. Por essas características, a baleia-franca-austral foi intensivamente caçada desde a costa do Estado do Rio de Janeiro, no Brasil, até o Uruguai e a Argentina no século XVII e teve seu número populacional drasticamente reduzido. Em função dessa redução do estoque, ações voltadas à conservação da Baleia-franca-austral resultaram em uma moção para que a caça fosse exaurida na década de 1930. Contudo, na década de 1960 os soviéticos caçaram ilegalmente mais de 3300 indivíduos no hemisfério sul.

Atualmente, a baleia-franca-austral é classificada como "ameaçada de extinção" na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas do Brasil. Na Lista Vermelha das Espécies Ameaças de Extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza ("IUCN", sigla em inglês) seu status passou de "vulnerável à extinção" para "não ameaçada". Essa alteração na classificação se deveu ao aumento da população no hemisfério sul. Contudo, segundo a IUCN, o estoque continua pequeno quando comparado ao original, e algumas populações ainda são muito pequenas e necessitam de cuidados especiais.

A baleia-franca-austral está distribuída por todo hemisfério sul, geralmente entre 20ºS e 55ºS, mas com registros efetuados até 63ºS. As populações mais conhecidas encontram-se próximas à Austrália e Nova Zelândia, África do Sul e Argentina.

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Mapa de distribuição da baleia-franca-austral. Fonte: IUCN

Sua ocorrência na costa brasileira está relacionada com o hábito migratório para águas tropicais quentes durante os meses de inverno e primavera, com picos nos meses de agosto e setembro quando se aproximam da costa para reprodução e cria dos filhotes. São encontradas geralmente em grupos de 1 a 6 indivíduos, com pares de fêmeas e filhotes mais usualmente notificados. Procuram baías e enseadas onde possam se proteger de ondas, vento e outras perturbações, investindo sua energia na amamentação e proteção dos filhotes. Apesar da maior concentração no litoral de Santa Catarina, as avistagens dessas baleias são comuns em baías e enseadas da costa sul e sudeste do Brasil, onde permanecem por diversos dias até semanas.

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Fêmea e filhote de baleia-franca-austral (Eubalaena australis) Foto: Leandro Saadi

 

Como identificar

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Baleia-franca-austral (Eubalaena australis). Ilustração: Pieter Folkens

Ausência da nadadeira dorsal, que ocorre apenas para essa espécie no hemisfério sul. A ausência da nadadeira dorsal ocorre também na baleia-franca-do-Atlântico-norte, na baleia-franca-do-Pacífico-norte e na baleia-da-Groenlândia.

Presença de calosidades na cabeça que podem ser utilizadas como forma de identificação individual, já que o tamanho e a disposição das calosidades são diferentes entre os indivíduos.

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Baleia-franca-austral (Eubalaena australis), com detalhe para as calosidades na cabeça. Foto: Giovanna Figueiredo

Nadadeira peitoral em forma de trapézio. Muitas vezes a baleias-francas deixam a nadadeira peitoral e caudal expostas, facilitando a identificação da espécie.

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Nadadeiras peitoral em formato de trapézio (a esquerda) e caudal (a direita) da baleia-franca-austral.  Foto: Giovanna Figueiredo

Coloração do corpo escura podendo apresentar manchas claras na região ventral. Filhotes nascem com a coloração um pouco mais clara que os adultos. Adultos chegam a 16 metros e filhotes nascem com cerca de 4,5 metros de comprimento.
Mandíbula e maxilas arqueadas e com a região do rostro estreita quando vista por cima.

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Foto com enfoque na parte superior da cabeça de uma baleia-franca-austral (Eubalaena australis), sendo possivel observar com detalhe as calosidades. Foto: Giovanna Figueiredo 

Ameaças

A baleia-franca-do-Atlântico-norte, Eubalaena glacialis, assim como sua congênere do hemisfério sul, sofreu com a caça predatória. Seus estoques foram drasticamente reduzidos de forma que representantes da espécie fossem praticamente reduzidos a menos de mil indivíduos. Estudos realizados de 1986 a 2005 mostraram que 38% dos casos de morte de baleias-francas no Atlântico norte foram por colisões com embarcações e 12% por emaranhamento em redes de pesca, sendo que 75% dos indivíduos conhecidos apresentavam marcas de rede no corpo, que corresponde com a característica costeira da espécie.

Além do problema com as colisões, a intensificação no tráfego de embarcações resulta no aumento da poluição sonora, principalmente de ondas de baixa freqüência, sobrepondo a banda acústica utilizada nos sinais de comunicação dos misticetos. O aumento na poluição sonora no Atlântico norte pode estar relacionado ao estresse nas baleias, causando respostas como troca de habitat, mudanças de comportamento e no repertório vocal, e pode trazer implicações na recuperação de populações ameaçadas. No hemisfério norte foram desenvolvidos planos e estratégias para a conservação da baleia-franca. A recuperação dessa espécie depende da velocidade e eficácia na implantação e desenvolvimento dos planos de manejo nos Estados Unidos e Canadá.

As recentes descobertas de novas bacias de óleo e gás na costa brasileira e a ampliação de portos de grande tonelagem geraram uma consequente intensificação do tráfego de embarcações no sudeste do país, colocando as espécies de cetáceos em risco. Mortes recentes de baleias-francas devido a colisões com navios apontam para a potencialidade desse problema na costa da Argentina, Uruguai e Brasil.

O litoral do estado de São Paulo apresenta 2 dos principais portos do país, sendo que o número de embarcações que chegam nesses portos aumentou significativamente nos últimos anos. A diminuição nas avistagens de baleias-francas no litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro pode estar relacionada com o intenso tráfego de embarcações.

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  Gráfico mostrando como o número de embarcações aumentou no Porto de Santos nas últimas duas décadas. (Figueiredo, 2013)

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 Gráfico mostrando número de embarcações no Porto de São Sebastião ao longo dos anos. (Figueiredo, 2013)

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Gráfico comparando o número de embarcações em São Paulo e no Rio de Janeiro. (Figueiredo, 2013) 

O desenvolvimento de estudos que entendam o uso e distribuição da baleia-franca no litoral brasileiro, definindo as áreas de uso são prioridades para o manejo da espécie. A definição desses usos permitem a delimitação de áreas de proteção e a elaboração de estratégias de conservação e manejo do estoque populacional no Atlântico sul como, por exemplo, a adotada na Baía de Fundy nos Estados Unidos e Canadá onde as rotas dos navios foram alteradas para evitar o choque com as baleias. Foi observado que as baleias-francas envolvidas em atividades da superfície, alimentação e cuidado com o filhote, parecem não realizar qualquer esforço para evitar a aproximação de pequenos barcos.

Esforços que poderiam ajudar a evitar problemas com navios são a realização de sobrevôos para notificar a localização das baleias, delimitação dos habitats mais importantes em cartas náuticas e inclusão de informações em "informes ao navegante", com descrições sobre a distribuição e medidas a serem tomadas para evitar problemas. Atualmente, foi desenvolvido um software baseado na captação de som em diversos pontos próximos à costa dos EUA e Canadá que informam aos navios a posição as baleias, de maneira que possam desviar sua rota evitando colidir com os animais.

 

Quem chamar

A maior parte das avistagens no litoral de São Paulo e Rio de Janeiro correspondem aos pares de fêmeas e filhotes. Desta forma, a aproximação não deve ser feita de forma alguma pois a fêmea estará protegendo sua cria e pode identificar a embarcação como uma ameaça. É terminantemente proibido se aproximar das baleias-francas na costa brasileira sem autorização prévia do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Natureza, sob riscos de aplicação de punições que podem incluir multa e apreensão da embarcação.

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Baleia-franca-austral avistada em setembro de 2013. Fotos: LABCMA

No Atlântico norte foi criado um catálogo geral onde todos os pesquisadores enviam suas fotografias, permitindo que os indivíduos conhecidos possam ser acompanhados ao longo dos anos. O catálogo trouxe novos conhecimentos sobre a espécie e as áreas que ela se distribui, dividindo os indivíduos de acordo com as áreas ocupadas por cada grupo.

Na Nova Zelândia, o departamento de conservação começou uma campanha incentivando a população a informar as avistagens da espécie de forma que os pesquisadores responsáveis pudessem fotografar e biopsiar os indivíduos. Esse trabalho mostrou que a população que utiliza o litoral do país está se recuperando e passando ocupar áreas que era utilizadas antes do estoque ser reduzido pela caça.

Baseado nesse trabalho, o Laboratório de Biologia da Conservação de Mamíferos Marinhos do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo decidiu iniciar uma campanha semelhante para o litoral paulista. Para colaborar basta enviar as seguintes informações para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.: posição (em latitude e longitude), data, estimativa do tamanho do grupo e se apresentavam filhotes, registro, como fotografias ou filmes. Assim, os turistas e moradores de cidades litorâneas podem ajudar fornecendo mais informações sobre a presença da espécie na costa. 

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Filhote e mãe de baleia-franca-austral avistada em setembro de 2013. É possivel observar as calosidades em ambos os indivíduos. Fotos: LABCMA

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