(Foto: Marcos César de Oliveira Santos)
Esta seção traz textos e fotos sobre um lugar ímpar no Planeta Terra: a Antártica. Compartilhamos com vocês um pouco sobre o continente, sobre as conquistas realizadas por aventureiros ao longo do tempo, dentre outros. A ideia é levar o visitante a um passeio por um dos mais fascinantes locais do hemisfério sul. Boa viagem!
Antártica: Breve Introdução
(Foto: Marcos César de Oliveira Santos)
Compreendendo todas as terras ao sul do paralelo 60ºS, a Antártica tem cerca de 14 milhões de km2, equivalente à área correspondente à soma dos territórios do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Peru e Bolívia.
A região possui a maior camada de gelo do mundo, que cobre cerca de 95% do continente Antártico. Essa capa tem uma espessura média de 2.700m, variando entre os limites de 2.200m a 4.800m. Esse gelo, cerca de 35 milhões de Km2, representa 90% de toda a água doce no Planeta.
No inverno, com o congelamento do mar, um cinturão de cerca de 1.000km de mar congelado se forma em volta da Antártica, aumentando a sua superfície em 18 milhões de Km2, enquanto que nos meses de verão, recua praticamente até o litoral, exceto nos mares de Weddell e de Ross.
Ao penetrar no mar, as geleiras formadas no continente flutuam e se desprendem, formando os icebergs que são transportados pelas correntes marinhas até se derreterem, devido à ação mecânica do mar e à elevação de temperatura.
(Foto: Marcos César de Oliveira Santos)
A separação da Antártica dos demais continentes por mares tempestuosos faz dela a mais isolada região do Planeta, e ajuda a explicar a falta de uma fauna superior no continente. Por outro lado, em contraste com a massa continental, os mares Antárticos abrigam uma das mais abundantes comunidades biológicas do Planeta. Ao sul da convergência Antártica está localizada a região marítima mais nutritiva do Planeta, onde prolifera o krill (ver foto abaixo), crustáceo de aproximadamente 5cm que se encontra na base da teia alimentar da região. A flora, extremamente pobre, é constituída de alguns musgos e líquens.
Foto: Marcos César de Oliveira Santos
O clima da Antártica é caracterizado por temperaturas extremamente baixas nas altitudes do "Plateau Polar" no centro do continente. Na estação russa de "Vostok" foi registrada a temperatura mínima de –89.6ºC. Nas altitudes mais baixas, próximas do litoral e com influência do mar, a temperatura média anual é de –10ºC. Fortes e frequentes ventos, com intensidade de até 100 nós, cerca de 180km/h, afetam as condições climáticas e, no conjunto, contribuem para a rarefação da vida natural terrestre. A Antártica tem um significado especial para a comunidade internacional em termos de meio ambiente e dos efeitos causados nas condições climáticas globais.
Este texto foi extraído do Manual de Operações Antárticas (7a Edição de 1999) elaborado pela Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM) – Programa Antártico Brasileiro. Caso você queria utilizá-lo na íntegra ou em partes, é sugerido que seja citada a fonte mencionada.
Antártica ou Antártida?
(Foto: Marcos César de Oliveira Santos)
Antártica é uma palavra de origem grega que reúne os termos anti (oposto) e arktos (urso), sendo que este último termo refere-se à estrela polar da constelação de Ursa Menor ou Little Bear. Esta origem etimológica sugere que, com base na teoria de simetrias e opostos, os gregos supunham a existência de uma terra desconhecida em uma região oposta à deles. Levou-se mais de 2 milênios para se demonstrar que a Terra era redonda e para confirmar a existência de um continente legendário do lado oposto ao Ártico. Esse lapso de tempo teve uma grande influência nos padrões de expansão e de exploração da Antártica, que representa o último continente descoberto pelo homem. Em um período muito curto de tempo o mesmo foi descoberto e explorado, já que não era habitado por nenhuma civilização humana.
Em língua inglesa usa-se Antarctic e em língua espanhola usa-se Antártida. Aqui algumas pessoas acreditam que não se pode dizer Antártica em função da fábrica de bebidas alcoólicas, que não faz sentido. Ambos termos são aceitos em língua portuguesa pela flexibilização das normas da mesma na última reforma gramatical. Entretanto, o termo mais comumente utilizado entre os pesquisadores brasileiros é Antártica.
História e Exploração da Antártica
Introdução
A exploração inicial da Antártica iniciou-se com uma fase "conceitual" caracterizada pelas viagens voltadas a comprovar a existência real de uma terra desconhecida. Exploradores corajosos se empenharam em partir rumo ao desconhecido em uma era em que não se dispunham dos modernos equipamentos de localização e de navegação. Inicialmente as ilhas mais próximas foram descobertas. Com o tempo, o sexto continente foi mapeado e seus recursos facilmente acessíveis permitiram uma explotação intensiva de focas e de baleias. Ao mesmo tempo, o novo continente passou a atrair a curiosidade da comunidade científica internacional. As expedições também passaram a ter o objetivo de desvendar a natureza local, aliada ao progresso tecnológico trazido pela revolução industrial. A fase final envolveu o estabelecimento do homem no continente. A expansão, trazida em nome da pesquisa científica, foi também combinada com reclamações nacionalistas e novas perspectivas de explotação econômica. Somente em 1959, com a criação do Tratado Antártico, é que a comunidade internacional adentrou a fase moderna da história da Antártica. O texto a seguir é um pouco longo, porém retrata bem um histórico fascinante de heróis que não podem ser esquecidos.
Fonte: landsendsurveying.com
Principais Conquistas
Segue um breve histórico sobre as viagens mais conhecidas ao continente gelado. Relatos históricos e memoráveis conduzidos por bravos heróis em uma era em que a navegação não era tão fácil de ser realizada como nos dias atuais. Cada um dos nomes mencionados a seguir tem um peso impossível de ser mensurado no conhecimento sobre a Antártica, e no que a navegação é nos dias atuais. Sem a bravura desses homens, possivelmente muito pouco se saberia sobre a Antártica atualmente. Por isso, esta seção também presta uma simples homenagem a essas pessoas que não devem ser esquecidas.
1520 Fernão de Magalhães: Após a suposição dos gregos da terra "oposta", o ponto de partida para se descobrir o continente Antártico foi a descoberta de um Estreito no extremo sul da América do Sul que hoje tem seu nome (Estreito de Magalhães). Com o patrocínio da Coroa Espanhola, o navegador português estava procurando uma passagem para as Índias através da Terra do Fogo, e acreditava que este era o limite norte do continente desconhecido. Com base em seu descobrimento, os mapas da época passaram a estampar uma área entre o sul do Estreito de Magalhães até o Pólo como Terra Australis Incognita (Terra Desconhecida do Sul).
Fernão de Magalhães (Fonte: mym-pt.blogspot.com)
1526 e 1578 Hoces & Drake: Essa visão do Hemisfério Sul foi mantida até a maior parte do século XVI, quando as primeiras dúvidas foram levantadas após o desvio acidental para o sul de alguns navios que desejavam atravessar o Estreito de Magalhães. Em 1526, o explorador português Fernando Hoces, e em 1578 o navegador inglês Francis Drake, descreveram que os Oceanos Atlântico e Pacífico encontravam-se em outro imenso Oceano, atualmente chamado de Estreito de Drake...as águas mais imprevisíveis do Planeta.
Francis Drake (Fonte: www.legendarydartmoor.co.uk)
1616 Schouten & Le Meire: Uma expedição holandesa sob o comando de Schouten & Le Meire descreveu o Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul, e encerrou a discussão se a Terra do Fogo fazia parte do continente desconhecido.
1770 – 1775 James Cook: Após essas viagens esporádicas, a viagem ao redor do mundo conduzida por James Cook entre 1770 e 1775 pode ser considerada como a primeira com um propósito científico. A serviço da Royal Society of Science, Cook zarpou da Inglaterra com o intuito de explorar e circumnavegar o continente desconhecido. No comando do Endeavor, ele realizou a primeira viagem ao redor da Nova Zelândia, até então, juntamente com a Austrália, consideradas como partes do continente desconhecido. Na sua segunda viagem a bordo do Resolution e do Adventure, Cook circumnavegou a Terra em latitudes nunca antes exploradas e navegadas até a latitude 71oS. Ele cruzou o Círculo Polar Antártico três vezes e navegou ao largo das placas de gelo, porém sem observar o continente legendário. Cook finalmente retornou a Inglaterra após uma viagem de três anos e mais de 6.000 milhas navegadas, convencido que a Terra Desconhecida não existia.
James Cook (Fonte: www.originpublishing.com.au)
1818 Smith: Um negociador britânico conhecido como Smith em sua rota a Valparaíso foi levado mais ao sul do Cabo Horn por uma tempestade e declarou terra à vista. Essa terra, mais tarde, foi conhecida como as Ilhas Shetland do Sul, nas quais caçadores de focas da América do Sul estavam aparentemente operando por alguns anos.
1818 Nathaniel Palmer: No mesmo ano, o caçador de focas americano conhecido como Palmer chegou à Ilha Deception (Shetlands do Sul), onde a exploração das focas aparentemente já tinha se estabelecido. Palmer é considerado como o primeiro explorador das Ilhas Shetland do Sul e partes da Península Antártica.
Nathaniel Palmer (Fonte: connecticuthistory.org)
1819 – 1821 Bellinghausen: Nesse período, quando já predominava a caça às focas, dois navios russos Vostok e Mirny chegaram à Antártica com diferentes objetivos. Sob o comando do Comandante Thaddeus Bellinghausen, o objetivo era circumnavegar o ainda desconhecido continente ao sul das latitudes exploradas por Cook. Bellinghausen atravessou o Círculo Polar Antártico por sucessivas vezes e explorou o mar que atualmente tem seu nome.
1820 – 1824 James Weddell: O britânico James Weddell permaneceu por quatro anos na área das Shetland do Sul para caçar e explorar. Em 1823 ele descreveu o mar ao sul das Ilhas Orcadas do Sul e, em condições muito favoráveis, conseguiu atingir a latitude de 74o15’S pelo mar que atualmente leva seu nome.
Selo comemorativo com imagem de James Weddell. Fonte: www.philatelia.net
1839 – 1843 James Ross: Por volta de 1839, o Almirantado britânico decidiu conduzir uma expedição à Antártica com o objetivo de desenvolver estudos sobre meteorologia, oceanografia e geografia, assim como para fazer observações sobre magnetismo, geologia, botânica e zoologia. A missão foi liderada por James Ross que havia descoberto o pólo norte magnético um tempo atrás. Ross deixou a Inglaterra com as embarcações Erebus e Terror, atravessando o Cabo da Boa Esperança, passando pela Tasmânia e alcançando o continente Antártico em uma área conhecida como Cabo Andare. Ele continuou a rumar em direção ao sul, porém parou na latitude 78o04’S em função de se encontrar com uma imensa barreira de gelo, que mais tarde foi batizada como Plataforma de Gelo Ross (Ross Ice Shelf). Ele mapeou a região e detectou cadeias de montanhas e vulcões continentais, batizando-as com os nomes de seus navios. Mais tarde ele rumou em direção à Península Antártica e tentou navegar pelo Mar de Weddell, porém foi obstruído pelo gelo consolidado.
James Ross (Fonte: www.answers.com)
1897 – 1899 Adrien de Gerlache: Duas expedições à Antártica partiram da Europa nos anos mencionados. A primeira foi liderada por Adrien de Gerlache, um biólogo belga, acompanhado pelo jovem norueguês Roald Amundsen, que em pouco tempo se tornaria um dos mais conhecidos exploradores do continente Antártico. Gerlache mapeou a porção oeste da Península Antártica (que hoje possui um Estreito com seu nome) e identificou grupos de ilhas ao longo da costa continental. Na latitude de 71oS sua embarcação ficou presa no gelo e eles foram forçados a invernar na Antártica.
Adrien de Gerlache (Fonte: pierart.skynetblogs.be)
1901 – 1904 Robert Falcon Scott: Robert Scott liderou uma expedição britânica à bordo do Discovery. Scott navegou pelo mar de Ross e realizou uma detalhada exploração da costa da Baía de McMurdo. Ele também sobrevoou a região à bordo de um balão. Ele desceu no continente e, acompanhado de Ernest Shackleton, marchou rumo ao Pólo Sul durante três meses. Entretanto, tempestades de neve e o aumento das dificuldades de se alcançar tal objetivo os forçaram a retornar quando alcançaram a latitude 82oS.
Robert Scott (Fonte: www.britannica.com)
1902 – 1904 Bruce: Como parte das campanhas britânicas de exploração à Antártica, uma nova expedição partiu da Europa em 1902 à bordo do Scotia, liderada pelo escocês William Bruce. A expedição rumou em direção ao Mar de Weddell, porém foi forçada pelas placas de gelo a navegar de volta às Ilhas Orcadas do Sul onde, na Ilha Laurie, Bruce instalou uma estação meteorológica e magnética chamada de Osmond House. Este se tornou o primeiro estabelecimento permanente na Antártica e até os dias de hoje tem funcionado.
1907 – 1909 Sir Ernest Shackleton: O objetivo de se alcançar o Pólo Sul verdadeiro tornava-se cada vez mais claro durante muitas das expedições à Antártica. Para isso, não bastava ter conhecimentos apenas de navegação, mas sim de se superar um longo e árduo caminho por terra. Assim sendo, passa-se a se desenvolver os principais planos e as estratégias para tal travessia. Neste contexto, a expedição de Shackleton de 1907 a 1909 foi considerada a primeira tentativa real de se alcançar o Pólo Sul. A bordo do Nimrod, Shackleton rumou em direção ao Estreito de McMurdo no Mar de Ross, onde estabeleceu seu acampamento. O primeiro resultado importante foi alcançado em 1909 após uma viagem de quatro meses através de 2.000km por três membros de sua equipe que tiveram êxito ao alcançar o Pólo Sul Magnético (72o25’S, 155o16’L). Shackleton, com uma equipe de quatro pessoas, partiu para o Pólo Sul Geográfico em trenós puxados por pôneis siberianos, porém os animais não resistiram às severas condições do ambiente e foram sacrificados. Os exploradores continuaram a missão a pé, mesmo com um clima inóspito e congelante, chegaram ao Plateu Polar. Porém, em janeiro de 1909, a falta de alimento aliado a muitas outras dificuldades forçaram Shackleton a retornar para a latitude 88o23’S, há apenas 180km do Pólo Sul verdadeiro.
Sir Ernest Schackleton e o Nimrod (Fonte: www.titanicinquiry.org)
1911 – 1912 – Amundsen & Scott: Após o retorno de Shackleton, novas expedições ao Pólo Sul estavam sendo preparadas na Europa. Diferentemente dos anos anteriores, a política de se obter esforços para alcançar tal objetivo foi sendo deixada de lado, e o Pólo Sul passou a ser um alvo pessoal e uma competição entre nações. Neste clima de desafio, duas expedições deixaram a Europa em 1910 e deram abertura às páginas mais dramáticas da história da Antártica.
A expedição britânica à Antártica, liderada por Robert Falcon Scott, partiu da Europa em junho à bordo do Terranova. Poucos meses depois, o norueguês Roald Amundsen partiu da Escandinávia à bordo do Fram, abandonando seus planos de alcançar o Pólo Norte, já que Peary acabara de conquistar aquele êxito. As duas expedições chegaram à Antártica no início de 1911 e se estabeleceram na Baía do Mar de Ross. Scott montou seu acampamento base na Ilha de Ross, enquanto que Amundsen o fez na costa oposta na Whale Bay, há uma distância de 600km de Scott. Eles utilizaram os primeiros meses para planejar suas jornadas e organizar os depósitos de alimento enquanto aguardavam a partida a ser realizada na primavera.
Amundsen partiu no início de setembro. Um mês depois ele atingiu o acampamento a 80oS e novamente partiu com uma equipe de 4 pessoas, cada um com um trenó puxado por 13 cachorros. O pequeno grupo avançou por terra, atravessando as cadeias de montanhas e atingindo as terras mais altas do continente. Em função das condições extremamente adversas, eles passaram a cobrir uma distância de 25km por dia. A marcha era aliviada pela redução do peso dos trenós e pela ingestão da carne de alguns cachorros que sucumbiam ou eram sacrificados. Amundsen e seus companheiros finalmente atingiram o Pólo Sul em 14 de dezembro de 1911 e retornaram com sucesso ao acampamento base no dia 25 de janeiro de 1912 após uma caminhada ininterrupta de três meses ao longo de 3.000km.
O último Viking: Roald Amundsen (Fonte: www.onexday.com)
Scott partiu de seu acampamento no dia 1 de novembro de 1911 com 16 homens, 10 pôneis siberianos, 233 cachorros e 13 trenós com um pesado equipamento para pesquisa científica. Em determinados intervalos, alguns homens propositadamente abandonavam a equipe e retornavam para o acampamento base, deixando suprimentos alimentares ao longo do caminho para assegurar o retorno de Scott. Alguns trenós quebraram, os pôneis tiveram que ser sacrificados e os cachorros não tinham mais condições de carregar tanto peso. No dia 4 de janeiro de 1912, enquanto Amundsen já estava de volta do Pólo Sul, o último grupo auxiliar deixou a última equipe de Scott de quatro homens: Bowers, Evans, Oates e Wilson. Com enormes dificuldades eles finalmente alcançaram o Pólo Sul no dia 17 de janeiro e descobriram que Amundsen já tinha alcançado o feito histórico. Os britânicos, exaustos e desiludidos, começavam a marchar de volta ao acampamento base.
Os cinco exploradores britânicos: Scott, Bowers, Evans, Oates e Wilson, desiludidos no polo sul (Fonte: www.theoccidentalobserver.net)
Entretanto, condições do tempo adversas e problemas com a falta de alimento não deixaram que eles chegassem ao acampamento base. O primeiro a morrer foi Evans. Alguns dias depois, Oates abandonou a barraca improvisada e nunca mais retornou. As fortes ventanias forçaram os três homens restantes a permanecer no interior da barraca há cerca de 18km do próximo depósito de alimento. Scott continuou a escrever em seu diário: "o fim está próximo...pela graça de Deus, tomem conta de nossas famílias". Os corpos congelados de Scott, Wilson e Bowers foram encontrados juntos a seus pertences oito meses depois.
A heróica era de desbravamento do Pólo Sul chegava dramaticamente ao seu fim. Apesar deste drama, a comunidade internacional celebrou o feito de Amundsen que foi possível graças à excelente organização e à escolha do melhor equipamento.
1914 – 1915 – Shackleton: Logo após a conquista do Pólo Sul, a Primeira Guerra Mundial atingiu a comunidade internacional e todas as atividades à Antártica foram suspensas, exceto por uma nova expedição organizada por Ernest Shackleton. O plano do destemido britânico era atravessar o continente a partir do Mar de Weddell para o Mar de Ross, passando pelo Pólo Sul. Shackleton partiu da Inglaterra em 1914 com dois navios. Ele planejou chegar o Mar de Weddell com o Endurance e então marchar rumo ao Pólo, enquanto a tripulação do Aurora estaria aguardando no Mar de Ross após ter rumado ao Pólo Sul organizando os depósitos de alimento pelo caminho. Infelizmente o Endurance ficou preso no gelo no Mar de Weddell e naufragou com Shackleton e sua equipe tendo tempo suficiente para abandonar o navio e desembarcar em um gigante iceberg.
Endurance. Foto: Frank Huxley.
Eles permaneceram alguns meses no imenso bloco de gelo à deriva e finalmente chegaram à terra firme nas Ilhas Shetland do Sul com a utilização dos pequenos botes que vieram no navio. Shackleton navegou com um pequeno bote e alguns membros da tripulação para as Ilhas Geórgias do Sul à procura de ajuda e de salvar o restante de sua tripulação. Foi uma jornada incrível por longos e intermináveis dias. Ao chegar nas ilhas Geórgias do Sul, Shackleton ainda teve que cruzar praticamente toda a Ilha a pé para conseguir socorro. Nenhum membro de sua tripulação sucumbiu em função de seus esforços sobrenaturais. Após o final da guerra, Shackleton organizou outra expedição à Antártica, porém faleceu após alcançar as Geórgias do Sul. Desde então, Sir Ernest Shackleton tem sido lembrado como o explorador mais corajoso e tenaz do continente Antártico por ter dedicado sua vida e esforços à longa e perigosa conquista do continente gelado.
Sir Ernest Shacketon. Foto extraída do livro Endurance
1920’S ERA DOS AEROPLANOS: Ao final dos anos 1920s o aeroplano surgiu como uma importante inovação tecnológica que permitiu uma perspectiva revolucionária ao abrir uma nova era de exploração ao continente Antártico. Esse meio de transporte possibilitou o transporte do homem e de equipamentos às áreas mais remotas do continente Antártico, tornando-se uma peça fundamental no suporte logístico do estabelecimento de estações de pesquisa científica no continente. O primeiro vôo à Antártica foi conduzido em 1928 pelo piloto australiano Hubert Wilkins, que voou em um monoplano Lockheed Vega sobre a Península Antártica por mais de 1.000km. No ano seguinte, após algumas tentativas, Richard Byrd voou sobre o Pólo Sul. Em 1935, outro piloto americano chamado Lincoln Ellsworth realizou a primeira travessia transantárica pelo ar.
1940’S FASE DE EXPANSÃO: Em 1939 o cenário internacional estava completamente tomado pela Segunda Guerra Mundial. Apenas após 1945 é que o interesse pela Antártica voltou a tomar forma, motivado pela possibilidade de estabelecer acampamentos permanentes no continente. Expedições à Antártica tornaram-se cada vez mais frequentes. Uma delas tornou-se mais conhecida em função de sua larga escala. A U. S. Highjump Operation em 1947-48 representou a mais impressionante operação conduzida com a participação de 4.700 homens, 13 navios e 24 aeronaves. Uma tendência crescente de assegurar a presença nacional no continente Antártico foi demonstrada por vários países com a política de não apenas realizar pesquisa científica, mas também ocupar espaços estratégicos. Esse clima foi influenciado pela guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, que enfatizavam a importância estratégica de controlar as rotas marítimas do sul.
1957 – 1958 ANO GEOFÍSICO INTERNACIONAL: Essas preocupações crescentes alertaram a comunidade internacional que, através da instituição do Ano Geofísico Internacional em 1957, chamaram a atenção do mundo para a Antártica ao enfocar apenas a pesquisa científica e a um apoio cooperativo entre nações. Por 18 meses (julho de 1957 a dezembro de 1958), cientistas de 67 nações coordenaram a maior operação Antártica internacional efetuada até o presente momento. Em nome da liberdade da ciência, cerca de 50 estações de pesquisa foram construídas no continente, e importantes informações científicas foram levantadas. Um dos mais importantes marcos da época foi a fundação de um Comitê Científico para a Pesquisa na Antártica (SCAR – Scientific Committee on Antarctic Research): um órgão internacional não-governamental com a missão de coordenar as atividades científicas a serem desenvolvidas na Antártica.
1959 Tratado Antártico: O Ano Geofísico Internacional abriu o debate sobre o papel político, econômico e científico da comunidade internacional no continente Antártico. Em 1959, um total de 12 nações (Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unidos, França, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Reino Unido e União Soviética) organizou um encontro em Washington para elaborar um acordo internacional para o manejo do continente Antártico. O Tratado Antártico, assinado em 1959 por 12 nações que tiveram a companhia de muitas outras nações incluindo-se o Brasil anos depois, representou a primeira tentativa de se lidar com um dos mais sensíveis assuntos internacionais da era moderna. Em 23 de junho de 1961, o Tratado Antártico passou a vigorar oficialmente. Entre os anos de 1961 e 1989, 26 outros países assinaram o Tratado, dentre os quais convém destacar o Brasil, a Espanha, Alemanha, o Uruguai, a Itália, a China, o Equador, o Canadá e a Colômbia.
Dias Atuais: Nos dias de hoje a Antártica é considerada como o continente universal que deve manter as características de seus primórdios, ou seja, não deve haver explotação econômica ou militar por parte de nenhuma nação. Os principais objetivos residem em desenvolver pesquisa científica de ponta e preservar a qualidade de vida local. Por meio desses instrumentos, tem sido possível realizar duas frentes de pesquisa e de conservação de fundamental importância para os países do Hemisfério Sul: averiguar quais as influências do clima Antártico no clima dos países do Hemisfério Sul, e alavancar as informações científicas adequadas para melhor se manejar os estoques populacionais das principais espécies de baleias do Hemisfério Sul.
Foto: Marcos César de Oliveira Santos
Amyr Klink
Fonte: http://www.palestrativa.com.br/palestrante/amyr-klink/
Nascido em São Paulo em 25 de setembro de 1955, Amyr sempre se dedicou à navegação. Em Paraty, uma das mais belas cidades do Brasil, deu "suas primeiras remadas", talvez já sonhando com distâncias maiores do que as enseadas locais. Mesmo formando-se em Economia, nunca abandonou o mar. Participou de travessias de média e de longa distância pelo litoral brasileiro. Provavelmente, quanto mais navegava, mais fomentava os desejos de ampliar tais distâncias. Parte de suas importantes travessias está resumidamente relatada no Apêndice de seu primeiro livro chamado de "Cem Dias Entre o Céu e o Mar". Neste livro, publicado em 1985, já é possível conhecer o potencial empreendedor de Amyr. É possível discernir sua vontade em superar desafios e de vencer seus limites. Amyr atravessou a distância da África do Sul à Bahia, no Brasil, a remo e com uma pequena embarcação de cerca de 3,5 a 4 metros de comprimento em 100 dias. Uma saga que vale a pena a ser conferida em seu livro publicado pela José Olympio Editora. Seus desafios começavam a tomar formas maiores. Após alguns anos preparando um "vôo" mais alto, Amyr partiu em 1989 para uma viagem fantástica de 22 meses de duração. Esteve no continente Antártico onde invernou à bordo do veleiro Paratii. Após o inverno partiu para a África do Sul e, de lá, para o Ártico. Este desafio foi brilhantemente descrito em seu segundo livro chamado "Entre Dois Pólos", publicado pela Companhia das Letras em 1992. Com seu livro, suas fotografias e palestras, Amyr passou a ser uma peça fundamental para que milhões de brasileiros pudessem saber um pouco mais sobre o que é este continente gelado. Belíssimas fotografias de uma de suas viagens podem ser encontradas no livro "As Janelas do Paratii", também publicado pela Companhia das Letras em 1993. Entre 1998 e 1999, Amyr vivenciou mais uma grande experiência navegando pelos mares do Sul. Completou uma volta de 360o ao redor da Antártica, feito que também havia sido alcançado por James Cook entre 1772 e 1775. Esta outra viagem, também regada de experiências inesquecíveis, foi muito bem relatada em mais um livro publicado pela Companhia das Letras ("Mar Sem Fim"), e documentada em vídeo através de uma emissora de televisão brasileira. No verão de 2002, lá estava Amyr novamente nas águas gélidas da Antártica. Dessa vez ele não foi sozinho, e sim acompanhado por uma equipe de produção de vídeo de uma emissora de televisão nacional. Foi ao Mar de Bellingshausen enviando imagens via satélite para o Brasil acompanhar "de perto" sua nova empreitada. São poucos os humanos que, onde quer que vão, levam consigo essa essência de compartilhar suas experiências e conhecimentos com seus congêneres. De nada adiantará nossas vidas se não compartilharmos com os nossos semelhantes os que aprendemos e vivenciamos. Assim faz Amyr Klink.
Literatura Sugerida
- Alexander, Caroline 1999. Endurance: A Lendária Expedição de Shackleton à Antártica. Companhia das Letras, São Paulo. 243pp.
- Cherry-Gamard, Appley 1999. A Pior Viagem do Mundo: A Última Expedição de Scott a Antártica. Companhia das Letras, SP. 556pp.
- Gurney, Alan. Abaixo da Convergência: Expedições à Antártica 1699 – 1839. Companhia das Letras, São Paulo. 533pp.
- Huntford, Roland 2002. O Último Lugar da Terra: A Competição entre Scott e Amundsen pela Conquista do Pólo Sul. Companhia das Letras, São Paulo, SP. 724pp.
- Klink, Amyr 1992. Entre Dois Pólos. Companhia das Letras, São Paulo. 228pp.
- Klink, Amyr 2000. Mar Sem Fim. Companhia das Letras, São Paulo. 271pp.
Celeiro de Baleias e Focas
A história geológica do Planeta Terra fez com que o hemisfério sul apresentasse uma bacia oceânica mais ampla que o hemisfério norte, onde continentes tomam uma porção considerável de espaço. Em função da tectônica de placas que levou a atual formação dos oceanos austrais, aliado ao surgimento de correntes marinhas altamente produtivas na mesma região, os mares austrais se tornaram o celeiro de baleias do Planeta Terra.
Com uma rede trófica composta por poucos elos, porém constituídos de abundantes populações, os mares austrais foram utilizados por mais de um século para a explotação de baleias e focas pelos humanos. O maior objetivo era processar a camada de gordura desses mamíferos, transformando-a em óleo para calefação e iluminação de embarcações e casas, e usado em mistura para a argamassa de construções antigas. Com isso os estoques populacionais desses mamíferos caíram drasticamente, quase levando espécies como a baleia-azul à extinção.
A seguir, fotografias de representantes dessas espécies são compartilhadas para se conhecer um pouco dessa magnífica fauna.
Baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae)
Chega a 15m de comprimento quando adulta.
O formato e padrão de cores da caudal é utilizada pelos pesquisadores para identificar indivíduos em uma população.
Pode resistir até cerca de 30min sob a superfície da água.
Não apresenta uma nadadeira dorsal típica como as demais espécies da mesma família, por isso recebeu a infeliz denominação de “humpback whale” em inglês.
Na região da cabeçca, cada estrutura sobressalente apresenta um pelo que possivelmente atua como um mecanorreceptor de vibrações do meio.
Fotos: Marcos César de Oliveira Santos
Baleia-fin (Balaenoptera physalus)
Segunda maior entre as baleias, a baleia-fin tem cerdas bucais pretas e brancas.
Este exemplar está exposto no Museu do Instituto de Pesca de Santos. Encalhou em Peruíbe em 1941 e tinha cerca de 23m de comprimento.
Fotos: Marcos César de Oliveira Santos
Orca (Orcinus orca)
As orcas receberam a infeliz denominação de "baleias-assassinas" porque algumas populações têm como hábito ingerir animais de sangue quente.
Seu padrão de coloração é inconfundível. Nas duas fotos temos machos com a nadadeira dorsal ereta, que pode chegar a 2m de comprimento.
Machos chegam até 10m e fêmeas a 7-8m de comprimento quando adultos.
Uma fêmea com seu filhote ao lado da embarcação de pesquisa na Antártica.
Fotos: Marcos César de Oliveira Santos
Foca-caranguejeira (Lobodon carcinophaga)
Duas focas-caranguejeiras na Antártica. Elas só ocorrem no hemisfério sul.
Seus dentes têm uma morfologia característica que diagnostica a espécie, e que levou os primeiros cientistas a acreditar que elas se alimentavam de caranguejos.
As focas-caranguejeiras se alimentam principalmente de krill.
Fotos: Marcos César de Oliveira Santos
Foca-de-Weddell (Leptonychotes weddellii)
A foca-de-Weddell ocorre apenas no hemisfério sul, com distribuição circumpolar.
Grandes olhos arredondados são importantes razões para o alto índice de fofulência das focas.
Nesta foto a fica-de-Weddell mostra suas unhas, importantes para cavar gelo para abrir respiradouros e para se coçar.
Fotos: Marcos César de Oliveira Santos
Elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina)
O elefante-marinho é o maior dos pinípedes, com os machos chegando a cerca de 5,8m de comprimento quando adultos.
Passam praticamente 3 a 4 meses em terá firme e os demais navegando e se alimentando.
Chegaram próximos à extinção quando foram caçados para extração da gordura.
Com sua proteção e rápida recuperação dos estoques, os elefantes-marinhos-austrais não se encontram mais ameaçados de extinção.
Fotos: Marcos César de Oliveira Santos
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