Caça à Baleia

Ilustração: Kristen Carlson em Estes et al. (2006)

Esta seção é dedicada a um assunto ainda polêmico no século XXI: a caça à baleia. Uma atividade que envolveu um receio inicial sobre males que esses leviatãs poderiam causar aos humanos, passou para uma questão tradicional há muito tempo, transcendendo a mesma para uma visão economicamente lucrativa, e hoje tem um cunho político-econômico que aparentemente não tem fim. Nessas discussões, os maiores interessados nunca são consultados: as baleias! As seções a seguir trazem o histórico da caça, a criação da comissão baleeira internacional, suas ações, e as perspectivas futuras.

Histórico

Desde os primórdios o homem realiza a atividade de caça à baleia, que no Ártico data de 500 D.C. . Existem registros desta atividade no livro mais antigo do Japão, o "Kojiki", do ano de 712. Povos como os bascos, os esquimós da Groenlândia e das Aleutas, os índios das costas dos Estados Unidos, dentre outros, realizavam a prática da caça de maneiras bem arcaicas. Eram aventuras temidas devido ao porte pequeno das embarcações e ao respeito que havia na época em relação aos desconhecidos "monstros marinhos".

Ilustração: Kristen Carlson em Estes et al. (2006)

Com o passar do tempo, este respeito passou a se transformar em ganância. O interesse econômico prevaleceu, e a atividade da caça começou a se expandir através de várias bacias oceânicas do planeta. Na época, expedições que poderiam durar até quatro ou cinco anos eram planejadas com o objetivo de se conseguir o óleo das baleias, utilizado-o para confecção de velas para iluminação, aquecimento de casas e embarcações. A carne era utilizada como fonte de alimento. Alguns povos passaram a utilizar as barbatanas das grandes baleias para a confecção de chicotes, guarda-chuvas e espartilhos.

 

Caça à baleia nos primórdios. Ilustração: Avelino Guedes.

Com o tempo foi descoberto o âmbar cinzento: um derivado sólido do tratamento gastro-intestinal dos cachalotes aos bicos córneos dos cefalópodes. Do âmbar, sintetizam-se cosméticos, principalmente perfumes. Em 1864, o norueguês Svend Foyn cria o canhão-arpão para facilitar a caça. É um arpão com um explosivo fatal à sua extremidade. Depois chega o navio-fábrica de propulsão mecânica. Anos depois é inventada a técnica de injeção de ar nos corpos das baleias caçadas para que estas flutuassem, facilitando a caça. Surge também o arpão-frio, um arpão que, ao adentrar o corpo do cetáceo, abre-se como um guarda-chuva, causando uma hemorragia interna. Com estes inventos, a caça tomou tais proporções que os próprios baleeiros começaram a ter problemas para encontrar suas presas. Para onde elas foram ?!?

O maior celeiro de baleias do mundo foi explorado por décadas. A Antártica hospedou indústrias baleeiras por muitos anos. Os estoques de baleia foram dizimados como uma sucessão de ondas. Primeiro, o alvo foi a baleia-azul. A maior espécie rende mais lucros. Quando elas tornaram-se raras, passaram a caçar a baleia-fin. Na sequência, a baleia-sei e, por fim, as baleias-minke. Essas são as bolas da vez no século XXI.

Restos de fábrica de caça à baleia localizada na Ilha Deception, Antártica. Foto: Marcos Santos.

A indústria baleeira passou a utilizar os cetáceos caçados para produzir alimento para cachorros e gatos, alimentar o gado, confecção de cosméticos, conservantes, tintas, vernizes, margarinas, e até redes de raquetes de tênis com as cerdas bucais. Todos os produtos derivados dos cetáceos passaram a ser sintetizados industrialmente. A caça passou a ser totalmente dispensável à humanidade, com exceção de alguns povos ("causa aborígene"), como Esquimós, Polinésios de Tonga, Indonésios de Timor, dentre outros.


A caça à baleia também foi realizada no Brasil. No período colonial a caça era realizada de maneira arcaica entre Santa Catarina e a Bahia. Entre 1964 e 1986, operou na Paraíba a COPESBRA, uma indústria brasileira subsidiada pela Nipon Reizo Kabashi Kaisha do Japão. Desde 1986 é terminantemente proibida a caça e comercialização de baleias em território nacional.

 

Comissão Baleeira Internacional

Em 1946, 19 nações formam a "International Whaling Commission (IWC)", ou Comissão Internacional de caça à Baleia ("CIB", em português). Esta comissão foi formada em função da preocupação da exploração indiscriminada de espécies migratórias que são patrimônio da humanidade, e não recursos econômicos de alguns países. A IWC passou a controlar a matança indiscriminada de algumas espécies, estipulando cotas e temporadas para alguns países e povos que das baleias dependeram. Anualmente a IWC promove reuniões envolvendo pesquisadores e políticos de todas as nações interessadas em proteger ou caçar as baleias. Alguns países sempre se opuseram à proteção das baleias: Islândia, Japão, Noruega e Coreia são os principais. 

Desde 1986, após vários anos de tentativas, e de quase total dizimação das grandes baleias, foi declarada uma moratória da caça até a renovação dos estoques destas. Foi dado um prazo de cinco anos para esta renovação, ao final dos quais seria expirada a moratória. Países como Japão (1988), União Soviética (ex) e Noruega (1987) cessaram um pouco mais tarde suas atividades de caça. Naqueles países e na Islândia, a caça à baleia é tradicional, vem de tempos remotos, e é uma atividade que passa de geração para geração. Os japoneses cultuam a caça à baleia desde os primórdios, sempre manufaturando suas caças integralmente, ou seja, aproveitando praticamente 100% do corpo do cetáceo. Japão e Islândia são países pequenos, encontrados em regiões expostas a vulcanismos constantes, não podendo utilizar suas terras de maneira íntegra para criação de gado ou similares para suprir proteína animal. São povos que, juntamente com os noruegueses, sempre extraíram recursos do mar. Em 1992, na reunião anual da IWC em Glasgow, na Escócia, foi negada a suspensão da moratória. Houve o desligamento voluntário da Islândia, e houve uma manifestação dos representantes da Noruega de que estes voltariam à caça em 1993, independente da decisão tomada na próxima reunião. O Japão provavelmente faria o mesmo. Em 1993, após uma semana conturbada de reuniões e de discussões no Japão, foi votada pela maioria dos integrantes da IWC a manutenção da moratória por mais oito anos. As reuniões continuam ocorrendo anualmente e são cada vez mais divulgadas na mídia. O visitante desta página obterá mais informações ao visitar também http://www.iwcoffice.org.


Dos anos 1990 em diante, a caça à baleia passou a englobar discussões muito delicadas no contexto mundial. Questões econômicas (crise mundial), sociais (crise alimentar), culturais (Japão, Noruega, Islândia e outros povos), políticas e ambientalistas foram consideradas quando da tomada de importantes decisões. A IWC estipulou cotas de caça anuais (exemplo, cerca de 150 a 400 baleias-minke para o Japão no Hemisfério Sul por temporada) em função das estimativas populacionais levantadas (cerca de 900 mil indivíduos).

Outras Ameaças

Com toda a atenção voltada aos grandes cetáceos, durante vários anos os pequenos cetáceos não só passaram a ser caçados, como também tiveram seus números reduzidos devido às capturas acidentais em redes de pesca, aos despejos de lixo químico e industrial nos oceanos, à caça indiscriminada de determinadas populações por alguns povos, aos acidentes constantes com navios petroleiros e colisões com lanchas, etc.

Os pequenos cetáceos habitantes de rios estão em perigo em todas as partes do mundo onde são encontrados. Esse habitat é altamente vulnerável à degradação e está sob forte pressão de populações humanas em expansão. Para se ter uma idéia, quase 10% da população humana vive ao longo do rio Yangtze, na China, habitat do "Baiji". ("Yangtze river dolphin"), espécie de golfinho considerada extinta em 2007 pelas nossas ações. Os despejos de lixo industrial naquele rio cresceram rapidamente à medida que a China "construiu seu futuro" (?!?). Na bacia do Amazonas, os problemas relacionam-se com a crescente derrubada da mata florestal, com o desenvolvimento de projetos irracionais e que geralmente têm um aval de partidos políticos gananciosos por trás, para a implantação de hidrelétricas, exploração pesqueira, poluição agrícola e industrial e mineração. A maior ameaça à sobrevivência dos cetáceos no mundo inteiro reside na ganância e irracionalidade com que os humanos tratam o planeta em que vivem.

A defesa e a proteção de baleias e golfinhos dependerão da compreensão sobre seus papéis na teia trófica, ciclo de energia e matéria nos ecossistemas e os potenciais impactos que as mudanças climáticas podem gerar na forma de uso de área de muitas das espécies.
E se o inverso fosse comum como na ilustração abaixo, você se sentiria confortável?