Boto-cinza

Esta seção traz informações mais detalhadas sobre o boto-cinza, espécie mais comum de cetáceo encontrada ao longo da linha de costa do sul ao norte do Brasil. 

 

Ficha Técnica

Ficha Técnica

Nome popular: Boto-cinza, ou simplesmente boto.

Nome científico: Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864).

Boto-cinza, Sotalia guianensis: par fêmea-filhote. Foto: Marcos Santos

Distribuição: Águas costeiras e estuarinas da América do Sul e Central, desde Santa Catarina (27ºS) até Honduras (14ºN). Preferência por águas protegidas.

Mapa de distribuição. Arte: Julia Oshima.

Coloração: Ventre geralmente branco, tornando-se rosa em função do estado de agitação dos animais. Porções laterais e porção dorsal de coloração cinza.
Tamanho: Podem chegar a cerca de 2 metros de comprimento na idade adulta. Nascem com 75 a 98 cm de comprimento.

Boto-cinza, Sotalia guianensis. Foto: Marcos Santos.

Organização social: Formam grupos de dois a cerca de 90 indivíduos, dependendo da região onde são encontrados. Como a grande maioria do golfinhos da família Delphinidae, estão organizados em uma sociedade de constante fissão e fusão de grupos. A ausência de dimorfismo sexual e o crescimento exagerado dos testículos dos machos quando maduros sexualmente são os principais indícios da poligamia, ou seja, aquisição no ciclo de vida de mais de um parceiro sexual ao mesmo tempo.

 

Boto-cinza em comportamento de socialização. Foto: Marcos Santos.

Alimentação: A base da dieta constitui-se de peixes, sendo que lulas e camarões já foram reportados como itens alimentares.

Boto-cinza com tainha capturada. Foto: Luciana Acuña.

Comportamento: Geralmente ariscos quando da presença de banhistas e de embarcações. Ágeis na captura de presas e durante os momentos de socialização.

Ameaças: Degradação e destruição de habitats costeiros e estuarinos provocados pelo homem, poluição química de estuários e de regiões costeiras, capturas acidentais em redes de pesca, perseguição de embarcações e de jet-skis, colisões de embarcações, alimentação induzida por mãos humanas, desastres ambientais gerados pela indústria de óleo e gás e mineração, e poluição sonora.

Desenho esquemático:

Reprodução e Dimorfismo Sexual

Os botos-cinza não são sexualmente dimórficos, ou seja, não é possível distinguir os sexos dos exemplares a olho nu com facilidade. Os machos e as fêmeas atingem os mesmos tamanhos quando adultos e suas nadadeiras dorsais são praticamente iguais em tamanho e em formato.
Uma forma de distinguir os sexos em Sotalia guianensis reside na análise das fendas da genitália e das glândulas mamárias dos exemplares mortos (ver fotos). É praticamente impossível observar tais diferenças com animais vivos e no campo (águas escuras) quando eles estão agitados.

 

Esta é a porção ventral do corpo do exemplar PA-083 (comprimento total = 173 cm), encontrado morto no dia 15 de julho de 1997. Você pode notar a fenda da genitália (direita) cercada por duas fendas menores que são das glândulas mamárias (acima e abaixo da genitália), e estas bem próximas do ânus (esquerda). Esta é uma fêmea do boto-cinza.

 

Esta é a porção ventral do corpo do exemplar PA-102 (comprimento total = 178 cm), encontrado morto no dia 25 de fevereiro de 1998. Você pode notar a fenda da genitália (direita) distante do ânus (esquerda). Este é um macho do boto-cinza, já que você não observa as fendas das glândulas mamárias e vê que o ânus encontra-se distante da fenda da genitália, onde o pênis está inserido para o boto não perder calor para o meio.

 

E agora? É uma fêmea grávida? Esta é a porção ventral do corpo do exemplar PA-020 (comprimento total = 183 cm), encontrado morto no dia 05 de agosto de 1996. Você pode notar a fenda da genitália (direita) distante do ânus (esquerda). Este é um macho do boto-cinza. Até parece ser uma fêmea grávida, mas este ventre mostra que é um macho sexualmente maduro. Seus testículos cresceram até 30 cm de comprimento e pesavam cerca de 1 kg cada. Esta é uma das evidências do que os cientistas chamam de competição espermática entre os machos no ciclo reprodutivo, levando à poligamia.

Outra forma de distinguir os sexos entre machos e fêmeas dá-se através da observação de uma associação muito próxima entre um exemplar de grande porte e um bem pequeno, nas proximidades das bordas do manguezal local e isolados de outros indivíduos. Após o nascimento do filhote, apenas as fêmeas cuidam do mesmo, pois ele precisa ser amamentado e também aprender a capturar suas presas. As fêmeas permanecem com seus filhotes para desenvolver estas atividades. Quando observados em grupos grandes, é muito difícil identificar quem seria fêmea e quem seria macho a olho nu. Portanto...tomem cuidado ao chegar a conclusões sobre a organização social dos botos-cinza. Muitas conclusões errôneas tomadas por outros pesquisadores já foram publicadas e devem ser consideradas com cautela.

 

Um par fêmea-filhote descansa próximo à borda do mangue. Neste caso, o adulto é uma fêmea em função de haver comportamento maternal desenvolvido até a independência do filhote. Quando se tem apenas um adulto e um filhote, certamente trata-se de um par fêmea-filhote. Não é possível saber o sexo do filhote sem se coletar uma amostra de pele e avaliar em laboratório de biologia molecular.

E agora? Quais desses botos são machos? Quais são fêmeas? Não é possível sexá-los a olho nu. Pode ser que a mãe do filhote já tenha submergido. Pode ser que seja o exemplar mais externo da foto. Não é possível ter certeza. Este é um dos motivos que tornam os estudos dos botos-cinza em seu elemento um pouco difíceis. Fotos: Marcos Santos.

Ameaças

Algumas fotografias ilustram as principais ameaças aos botos-cinza no estuário de Cananéia. É preciso agir COM URGÊNCIA para barrar estas ameaças aos botos e ao seu habitat. Amanhã pode ser tarde demais!

 

Uma das principais ameaças aos botos no estuário de Cananéia são os jet-skis. Nos meses de verão, alguns turistas partem com toda a velocidade para cima dos botos, na tentativa de tocar os mesmos com o jet-ski ou com a mão. Infelizmente não há fiscalização e punição, embora as leis brasileiras de proteção aos cetáceos sejam claras quanto à proibição de perseguição desses mamíferos.

 

Outra ameaça aos botos locais está relacionada aos panos de redes flutuantes que foram descartados por embarcações de pesca em águas costeiras e estuarinas. Alguns botos já foram encontrados emaranhados em tais panos, o que os impossibilita de capturar presas, levando-os à morte.

 

As redes de espera esticadas em águas estuarinas representam duas ameaças em potencial. Nas marés altas, elas não são detectadas pelos pilotos de embarcações. Pequenas embarcações podem se emaranhar nestas redes e, na colisão, os passageiros da embarcação podem ser jogados para a água. Além disso, alguns botos não conseguem detectar estas redes e morrem afogados.

 

As embarcações esportivas que se deslocam em altas velocidades representam uma ameaça aos botos nas águas estuarinas. Em uma área onde as fêmeas estão ensinando seus filhotes a capturar presas, e que esses filhotes são totalmente dependentes de suas mães, embarcações rápidas podem muitas vezes atropelar os filhotes, como demonstrado na fotografia a seguir.

 

Este boto-cinza apresenta marcas de atropelamento por embarcação com motor de popa. Esta foto foi batida em 2002. Por pouco uma nova geração de botos seria perdida pela imprudência dos humanos.

 

Foto: Andrea Prey

Outra ameaça aos botos na região: alimentação induzida por mãos humanas aos botos, incentivada por uma ONG local. As leis brasileiras não deveriam permitir qualquer pessoa alimentar botos selvagens. Esse comportamento inaceitável pode provocar quatro problemas em um futuro próximo: (1) As mães não ensinam mais seus filhotes a capturar presas vivas, e sim a pedir esmolas de embarcações. Isto é prejudicial, pois potencialmente quebra os laços sociais desses animais. (2) Muitos turistas costumam dar alimento contaminado ou não apropriado, como cachorro quente, pregos, dentre outros. (3) À medida que os botos se acostumam com comida fácil, eles perdem a prudência com relação à aproximação das embarcações e podem se cortar severamente pelas hélices dos motores. (4) Após algumas investidas dos turistas para fazer carinho nos animais ao provocá-lo com o alimento à sua frente e depois retirando-o, os animais podem morder o braço do turista para que o mesmo solte logo o alimento. Faça à Natureza um favor: NUNCA ALIMENTE ANIMAIS SELVAGENS!

 

 

O turismo náutico para observação dos botos em Cananéia pode e deve ocorrer, porém sob regulamentação adequada. Nos meses de verão as embarcações de pequeno, médio e grande porte perseguem os botos durante todo o dia. Normas para manutenção de distância dos animais e horários de visitação deveriam ser estabelecidos. A Barra de Cananeia, atual palco de observação de botos, já comportou grupos de 80 a 120 botos de uma vez. Com o crescimento do turismo, os tamanhos de grupos na Barra foram extremamente reduzidos, raramente passando de 20 botos.

Fotos com exceção de uma: Marcos Santos

Splash!

É hora do show!

 

 

 

 

 

 

 Fotos: Marcos Santos